sábado, abril 02, 2005

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Quando escrevi isso pela primeira vez, em novembro de 2003, eu disse que não queri guardar isso até a morte do papa. Mudei. Tá ai, de novo, e, até, com mais respeito. Porque agora nada pode se fazer, a não ser rezar, ou fazer com que ele dê umas boas risadas até chegar do outro lado. Prá você Carol, apesar de todas as divergências.

Carol Wojtyla agora podia andar, e, como ele não fazia há anos, com a coluna reta, altiva. Não via seu rosto, e nem podia já que se via como se veria se estivesse vivo. Mas podia imaginar seu rosto ao admirar suas rejuvenescidas mãos. Ele devia, agora, aparentar uma idade próxima dos 65 anos, suficiente para despertar o respeito pela sabedoria que só vem com a idade, mas muto cedo para que fosse despertada a pena que surge da senilidade.

Perfeito, Perfeito. Era assim que sempre se imaginara, era assim que ele sempre pensou em passar a eternidade. E era assim que ele estava, era assim que viveria a eternidade. Olhou para os céus nublados, procurando alguém para agredecer, olhou para os lados imaginando estar a Sua direita, mas só enxergou uma montanha, e então Carol Wojtyla soube que deveria escalar a montanha, como se isso tivesse sido lhe dito no momento de seu nascimento.

E subiu a montanha, e, ao fazer isso, percebeu que era mais forte do que pensava. Venceu desfiladeiros, paredes traiçoeiras e um sem número de armadilhas naturais com a mesma facilidade com que caminharia em um plano. E sorriu. Depois de um tempo gargalhou e então chorou com uma alegria não lembrava de ter sentido alguma vez em vida. E, à medida que chegava mais e mais próximo do topo da montanha e a figura de um Deus grandioso e pensativo se fazia mais e mais clara, Carol Wojtyla mais e mais alegre ficava.

E então ficou face a face com Ele. Não tinha palavras, queria agradecer orar e idolatrar tudo ao mesmo tempo, mas não conseguia, não podia tecer glórias suficientes a Aquele que estava a sua frente. Foi Ele que falou então, um magnífico velho de barba longa e branca que fazia o Moisés de Michelangelo parecer um velho encarquilhado.

Qual é o enigma do aço? – A voz do velho trovejou e o céu lhe fez eco.

Carol Wojtyla empalideceu. O velho repetiu a pergunta e Carol Wojtyla falou “Merda!” em todos os idiomas que conhecia. Obviamente nenhuma daquelas palavras era a resposta.