quarta-feira, dezembro 08, 2004

Nada não vale tudo.

Ao ler “O Vampiro que Ri”, minha primeira reação foi de asco e nojo. Ai, por uma dessas incompetências típicas do mercado editorial brasileiro, li o prefácio que se encontrava ao fim do livro. E refleti. O autor do prefácio tecia uma série enorme de elogios ao autor, desenho e roteiro, e ao conceito da obra. Basicamente, comecei a entender o porque do meu asco, quando o autor confirmou minhas suspeitas ... A história não passa de um libelo de como é viver sem moral, ou, melhor, de como só se pode ser feliz quando se transcende totalmente a moralidade. Não vou dar ao livro o tratamento que usualmente dou a coisas que não gosto, empresto e recomendo que não me seja devolvido. Dentro do que se propôs, o autor conseguiu o que queria, mas duvido que ele se propunha a convencer alguém a ser imoral.

De Nietsch a Edir Macedo, passando por todo mundo que adora defender que todos os valores que temos não valem nada por terem sido produto da sociedade, a grande luta do ser humano é contra causa e conseqüência, é contra a responsabilidade e a culpa. Como fez o Doutor Nova de Gunn, lutamos contra o nosso Karma. Adoraríamos viver em um Mundo em que pudéssemos viver sem que nossos atos ressoassem de maneira escandalosa. Não seria bom? Não seria lindo que nada valendo nada, não precisássemos pensar em nada, temer nada, manter nada?

Não, esse paraíso não existe por que ele depende da inexistência do amor, do respeito, da posse, da segurança ... de que vale um paraíso assim, seja ele qual for?

De nada ... seria um paraíso de animais, onde a única motivação possível é a destruição do que não lhe é querido, do que para você não vale nada. Mas em um mundo assim, quanto tempo vai demorar para alguém destruir você?

Esse paraíso é para poucos. Felizes em O Vampiro que Ri, apenas eles, os vampiros. Tudo em volta deles, morre, é destruído. E na maioria das vezes merecem isso. Incendiários, estupradores, prostitutas, espancadores toxicômanos ... Claro, alguns inocentes também são destruídos pelos vampiros ... mas eles podem. Os outros são punidos na medida de suas ações. Porque são humanos.

Da minha parte, acho que um estado de amoralidade não é resposta para nada. A ausência de Karma nos remete aos animais que devoram os próprios filhos por medo de disputa de território e alimento. Eu não quero ser mais animal do que já sou. Quero ser mais humano. Quero escolher. Quero continuar lutando contra as doenças dos sentimentos e da angústia sem remédios, provar para mim mesmo que minha alma existe. Quero escolher, quero entender e traçar minha própria moral. Quero definir e esclarecer meus limites.

Quero a Luz do Sol, que nem mesmo os vampiros que tudo podem tem.